quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quando se perde a sombra


A humanidade saiu da cama em que estava com sua parceira(o). Pulou do estado explosivo e ofegante do prazer para o pós-orgia. Agora toda superprodução está a nossos pés, mas não sabemos o que fazer. E continuamos produzindo, ou melhor, reproduzindo.

Os terráqueos se tornaram máquinas reprodutoras. Reproduze-se política, sexo, forças produtivas, forças destrutivas, mulheres, crianças, inconscientes, arte. Vive-se na reprodução indefinida de ideais, de fantasmas, de imagens, de sonhos que há tempos ficaram para trás. Caminhamos no vácuo, porque parece, que até aqui, esgotaram-se todas as possibilidades de liberação. Já não há vanguarda artística, sexual nem política com uma possibilidade de crítica radical. Quer um exemplo prático? Antes da presidência, Lula representava a esperança revolucionaria desta nação. Prefiro não comentar o resultado. Mas e agora? Quem após o fim de seu mandato representa algo, no mínimo, exótico para este país?

Coisas continuam a funcionar ao passo que a idéia delas já desapareceu há muito. E o paradoxo é que elas funcionam melhor ainda. A produção mundial de automóveis, por exemplo. Hoje, não se produz carros para o seu destino – pessoas. A industrialização de veículos está destinada à venda. Não importa se o produto vai ser vendido ou não. O importante é reproduzir. Outro exemplo é o sexo. Alguém aí acredita que a essência do sexo ainda está viva? Eu almejo que sim. Os seres tecnológicos, as máquinas, os clones, as próteses, todos eles estão transformando os seres humanos em protozoários. A evolução(?) sucumbiu o conceito de sexo, de transa, de prazer, de desejo. Todas as tentativas atuais, entre as quais a pesquisa biológica de vanguarda, tende para o aperfeiçoamento do ser assexuado imortal em detrimento do sexuado mortal. Na época da liberação sexual, a palavra de ordem foi “o máximo de sexualidade com o mínimo de reprodução”. Atualmente, o sonho de uma sociedade clônica seria o inverso: o máximo de reprodução com o mínimo possível de sexo. E a AIDS parece ser uma das grandes ferramentas de manutenção desse novo sistema, instaurando a confusão elementar da epidemia.

O sexo não está mais no sexo, mas em toda parte. Assim como o político, que já não está no político, mas infectando todos os domínios. Cada área por assim dizer expande-se no seu mais alto nível e se generaliza, perde sua idéia, sua sombra. Quando tudo é político, nada mais é político, e a palavra já não tem sentido. Quando tudo é sexual, nada mais é sexual, e o sexo perde toda a determinação. Quando tudo é estético, nada mais é belo nem feio, e a própria arte desaparece.


Por Cecílio Bastos (Estudante do 7º período - C. Social)

2 comentários:

Anônimo disse...

sem sombra a imagem fica dura.

Muito bom cara!

Anônimo disse...

Já não fudemos como antes...