sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Minha pele não tem cor

É costume pedirem para eu classificar minha pele em preto, branco, vermelho ou amarelo, mas ninguém entende que como o disco de Newton sou fruto da junção de todas essas cores. Não adianta perguntar, eu não sei qual pele visto, porque minha amarelada pele negra não consegue se separar da minha epiderme branco-avermelhada.

Mas se mesmo assim quiserem que eu busque em minhas características físicas, traços que me agrupem numa única etnia; provarei mais uma vez a impossibilidade desse feito, afinal segundo a química não é possível diferenciar os elementos que compõem uma mistura homogênea, logo, não poderei me enquadrar em um único grupo.

Talvez nem assim haja desistência, mas aí é só buscar um trunfo chamado árvore genealógica, quem sabe vendo a miscigenação que é a minha família, desistam dessa vil classificação que sobrevive de marginalizar e enobrecer pessoas pelo seu fenótipo, sem levar em conta sua condição primeira de pessoa-cidadã.

E a quem interessa isso? Quem inventou a hierarquia das cores? Quem estipulou o valor comercial da pele? Acaso somos produtos que precisamos passar por um controle de qualidade ditado pelo (mal) humor do poder?

Porque se fazem milhares de conferências, seminários e congressos para discutir uma igualdade de discurso, e sempre se chega à conclusão de que o racismo ainda existe e de que o preconceito ainda persiste? E você já parou pra pensar o que está sendo feito pra mudar essa realidade?

Em que gaveta está guardado o livro que trata dos Direitos Humanos? Em que lixeira ficou jogada a ética? E a moral será que se perdeu em alguma turnê de conferências? Não há como não refletir sobre essas questões, todos nós temos um conceito pré-estabelecido, ou melhor, um preconceito sobre alguém ou alguma coisa, e você já se perguntou onde esconde o seu preconceito?

Sabe o que é mais preocupante? Costuma-se comemorar dias como o 13 de maio (“abolição da escravatura”) e o 20 de novembro (dia da consciência negra). Nas escolas de ensino fundamental fazem até concurso para escolher o negro mais bonito, mas se esquecem de refletir sobre o sofrimento e a luta desse povo que foi arrancado de sua pátria para servir à aristocracia de outra terra.

E como o Dia da Consciência Negra não movimenta o mercado consumidor, o máximo que a mídia traz é uma nota falando, que dos mais de cinco mil municípios do país, pouco mais de duzentos decretaram feriado nesse dia. É, parece que na hierarquia da nossa TV em cores, o BRANCO é a cor dominante.


Por Elka Macedo

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom seu texto, Elkinha!
Fico muito feliz em ver as pessoas colaborando com a atualização do "Juntandoscacos".
E fico ainda mais feliz em ver o crescimento de muita gente dentro do Movimento Estudantil. As reflexões que a gente começa a fazer a partir das discussões, das vivências, mudam nossa forma de pensar o mundo sim... e isso é massa quando as mudanças não acontecem só no discurso.
E quando a gente ver um monte de gente se levantando pra dizer que não tá satisfeito/a com esse sistema excludente e que quer fazer algo p/ transformar essa realidade, é que a gente tem certeza de que vale a pena segurar firme as bandeiras que a gente levanta.

Ilana Copque disse...

Texto muito bom!