No dia 17 de junho, o Supremo Tribunal Federal aprovou a não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Nada novo, apenas a oficialização de uma prática já tão corriqueira e que jamais impediu a existência do bom e do mau jornalismo no Brasil.
Sendo bem sincera... enquanto estudante de Comunicação Social, enquanto representação estudantil (C.A), enquanto militante do movimento estudantil (nacional) de comunicação, enquanto pessoa que acredita que muita coisa está errada e precisa mudar em nossa sociedade, digo que essa decisão veio pra provar o quanto as pessoas são (e estão cada vez mais) egoístas.
Cabe aqui, mais um ditado popular, dentre tantos que tem sido usado depois do dia 17 de junho: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. É nisso que parece está embasado o levante de tantos que perderam o sono depois da decisão do Supremo Tribunal Federal.
Quantas decisões absurdas o STF e outras esferas do poder nacional tem tomado, mas como não nos atingem diretamente, ninguém tá nem aí. Vamos pensar um pouco: Por que ninguém se interessou em travar esse debate antes? A mídia se calava, independente da posição que defendia. A academia também não (ou muito pouco) se pronunciava. O que falta pra gente se apropriar (com qualidade) dessas discussões? É a inexistência de espaços para isso? Não. É falta de interesse.
Me desculpem, mas me pronuncio aqui pra dizer que não me preocupa a decisão do STF, minha inquietação é outra.
Ás vezes ouço discursos de colegas que me causam náuseas... há uma pseudo preocupação com a formação. As falas são bem arrumadinhas, as críticas aos grandes meios (ao monopólio da mídia) são consensos, mas pouco vejo a diferença na prática. Parece que todo mundo esquece que a mídia é feita por pessoas, ou seja, nós daqui a pouco.
Talvez, se refletíssemos mais sobre a verdadeira prática jornalística, sobre o jornalismo como ciência preocupada com uma necessária transformação social; talvez se brigássemos para que as empresas proporcionassem adequadamente o estágio... estaríamos hoje aqui preocupad@s em exigir a regulamentação da nossa profissão, preocupad@s em lutar contra a precarização da mesma ou ainda preocupad@s com algo mais emergencial numa sociedade movida pela tecnologia da informação e da comunicação.
Os argumentos expostos por Gilmar Mendes são covardemente ridículos, só prova a mediocridade do debate, o despreparo cada vez maior dos representantes políticos que, diariamente, decidem a vida de centenas de brasileiros e brasileiras. Contudo, nesse contexto de obrigatoriedade ou não do diploma de jornalista, vejo um problema bem maior: o que estamos fazendo dos 4 anos (em média) que passamos na Universidade? Essa reflexão faz-se necessária para definirmos o que faremos depois desses 4 anos, logo após aquela solenidade em que vamos receber o diploma e encher o peito pra dizer que somos jornalistas "por formação".
Por que não centramos nossas energias numa batalha por uma educação de qualidade, onde a Universidade não seja um privilégio de uma pequena parcela da população? Por que não questionamos a falta de oportunidade que impede a existência de mais profissionais qualificados? Por que não enfrentamos os “donos da mídia” que insistem em não oferecer a qualidade da informação de que a população é merecedora? Por que também não nos revoltamos com o STF quando a decisão atinge profissionais de outra categoria?
Tudo isso porque somos egocêntricos, individualistas e assim, infelizmente, nunca seremos agentes de mudança social alguma, como, teoricamente, nos propomos a ser.
Para as/os que querem desistir de estudar, lamento, só tenho a dizer que é preciso mais maturidade e um maior compromisso seja qual for a profissão a ser seguida. Àqueles/as que não se conformam com a não-exigência do canudo, busquem as alternativas. Temos aí um mercado gigante que tem lugar para todo e qualquer bom profissional.
No mais... continuo (já quase concluindo) meu curso, na certeza de que teoria e prática devem caminhar juntas, (com ou sem obrigatoriedade do diploma) pois estas sim, aliadas à ética, são essenciais no exercício da profissão que escolhi.
Érica Daiane - Estudante do 8º período de Comunicação Social (Jornalismo em Multimeios) /UNEB Juazeiro.