quarta-feira, 27 de agosto de 2008



Jovens de movimentos sociais reafirmam a luta pela construção de um Projeto Popular para o Brasil

Durante cinco dias, jovens de vinte estados brasileiros, ligados a movimentos sociais populares, se reuniram na Universidade Federal Fluminense (UFF), na cidade de Niterói para momentos de estudo, formação política, discussões sobre a conjuntura nacional e internacional e sobre o momento que atravessa a esquerda brasileira.
Foi de 11 a 15 de agosto, durante o I Encontro Nacional da Juventude do Campo e da Cidade (ENJCC), organizado por 24 movimentos sociais de trabalhadores, negros e negras, mulheres, sem-terra, sem-teto, camponeses, estudantes e desempregados, em sua maioria ligados à Via Campesina.
O I ENJCC é parte de um programa de formação da juventude da classe trabalhadora, organizado pelo Coletivo Nacional de Juventude da Via Campesina. O curso vem ocorrendo, em nove Estados, desde 2006 e tem como objetivo formar, mobilizar e organizar os jovens trabalhadores do campo e da cidade.
Para o Coordenador Nacional de Juventude do MST, Antônio Neto, o encontro foi um marco para a juventude da classe trabalhadora, afinal jovens de diversas organizações tiveram a oportunidade de relatar seus avanços e dificuldades de mobilização, trocar experiências de lutas e se articularem para promover outras lutas conjuntas.
Temas como capitalismo na atualidade, análise e interpretação de dados sobre a juventude, criminalização dos movimentos sociais e fragmentação da esquerda foram debatidos pelos jovens no campus da Universidade. Atividades como mesas de diálogo, grupos de discussão, eixos temáticos, oficinas e apresentações artístico-culturais proporcionaram o aprofundamento dos debates e a integração dos jovens ali presentes.
As místicas também estiveram presentes em todo o encontro, no sentido de sensibilizar os militantes e convocá-los para as lutas sociais. A luta das mulheres camponesas no 8 de março, as mobilizações do plebiscito pela reestatização da Vale do Rio Doce e as manifestações contra a Transposição do Rio São Francisco foram contadas com muita poesia, música e teatro.
O Encontro foi também um lugar para prestar homenagens a grandes lutadores e lutadoras do povo. O legado de Che Guevara, Olga Benário e Josué de Castro foram lembrados com a presença, inclusive, das filhas de Olga e Josué, respectivamente, Anita Prestes e Ana Maria Castro.
Rafael Vilas Boas, do Setor de Cultura do MST, acredita que o Encontro foi o momento também de refletir sobre a miopia da esquerda brasileira que, muitas vezes, “não consegue compreender que as questões sociais estão historicamente ligadas entre si”.
“O encontro é um grande passo que a juventude brasileira dá rumo ao processo de revolução neste país. Penso que a partir deste encontro poderemos nos entender melhor e nos organizar, trabalhar e conscientizar nossa juventude de que suas diferenças culturais e estruturais são particularidades e que só através da compreensão dessa heterogeneidade, podemos romper com as dificuldades colocadas pelo o inimigo único que nos cerca. E com isso avançarmos na construção de um projeto popular para o Brasil”, afirmou Thiago Cavalcanti do Núcleo de Assessoria Jurídica de Pernambuco (NAJUP).
Um dos momentos mais aguardados do encontro foi justamente a última atividade antes da partida dos ônibus das delegações: o Ato Público pelo Centro do Rio de Janeiro, na tarde do dia 15. Organizados em fileiras e com bandeiras vermelhas nas mãos, os jovens denunciaram as mortes que são causadas pela violência do Estado e protestaram contra a criminalização dos movimentos sociais.
Os cerca de 1200 jovens presentes no Ato foram ao Ministério da Educação, à sede da Vale do Rio Doce, ao Consulado dos Estados Unidos e ao Tribunal de Justiça exigir, entre outras coisas, uma educação pública de qualidade em todos os níveis; a reestatização da Vale e o cumprimento imediato dos direitos fundamentais, como trabalho, saúde e moradia.
“Juventude que ousa lutar, constrói o Poder Popular”, “Pátria Livre, Venceremos!”, “Cultura, Trabalho, Educação, Levante Juventude pra fazer Revolução”, “Te cuida imperialista, a América Latina vai ser toda socialista”, foram alguns dos gritos de ordem entoados durante o Encontro e levados ao centro do Rio.
O I ENJCC possibilitou também a integração da juventude de diversos movimentos sociais populares. A troca de experiências se pautou na luta por uma construção alternativa para o país. Isabelle Mendes, do Movimento Estudantil da Paraíba, espera que “a juventude se fortaleça e que outros espaços como estes sejam realizados”.

Por Paulo Victor Melo




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