quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Eh... o primeiro dia de aula, depois de tantos vestibulares, tantas horas num cursinho, tantas madrugadas em claro, tantos convites para festas recusados, e tantas outras coisas... Saio de casa deixando um lembrete: tchau mãe, tô indo pra faculdade. É bom dizer isto num país que 3% da população ocupa lugar nestas instituições e 70% são analfabetos funcionais, onde, dentre estes, boa parte se dedica a ocupações ilícitas para poder ostentar uma vida “digna”. Um curso superior pode ser só mais um passo, mas é um dos maiores.
Atravessando a cidade com minha bicicleta, sinto a claridade e o calor que o Sol nos oferta, vejo a cidade com outros olhos (com os olhos de que ama, acho que não), olhos de um guerreiro conseguindo chegar a algum lugar. “O Sol tá massa”, vou repetindo mentalmente enquanto faço o trajeto. “Que legal a porta do recinto está aberta mostrando suas cores”; verdadeiramente: a universidade é um lugar mágico. Dentro dela habita povos antigos que passam seus ritos para os mais novos guerreiros. O ritual de passagem começa com algo que parece violento: a pouca moeda de troca dos jovens guerreiros é levada, suas belas madeixas são arrancadas, seus rostos pintados em meio a gritos são postos pra fora de sua habitação, são expostos ao sol no pátio dos fundos onde, olhando para cima, ver-se a multidão que se espalha pelos andares do grande (ou quase) prédio. Outro ritual! Este pelo menos tem nome: é o Tchu-tchu. Intrigado, tento desvendar a sua simbologia: forma-se uma grande roda, dentro dela os novos guerreiros são postos, com vários pulos para cima e a canção que tem só uma palavra composta, tchu-tchu, ecoa; segundo os mais antigos destes povos esta música foi repassada por seres vindos do além-céu que fizeram a mesma dança, mostrando como os povos daqui deveriam fazer para dar as boas vindas e considerar os novos guerreiros iguais de outra forma tão sagrada quanto era feito antes.
De repente, o velho trem aparece com um barulho estranho, meio que um ‘tchu-tchuá, tchu-tchuá, tchu-tchuá, tchá-tchá... um tanto desconfortável, mas foi boa a viagem. Demos a volta por todo o prédio, fomos em seu corpo administrativo, rodamos por léguas neste trem até desembocar na beira do rio, aqui os guerreiro já estavam se conhecendo. Já estavam soltos na buraqueira, como diz minha mãe, as “presepadas” já apareciam: Michael Jackson, o revoltado, vai brincando mais do que nunca. Já a fera-ferida ficara pelo caminho, mostrou força ao ser muito atuante nos debates ao longo da semana. A Parábola Mulher (PM) disse “daqui eu não saio, daqui ninguém me tira”, rsrs... agora tire! A Hello Kitty se senta no chão da beira do rio, limpando-o, pois estava sujo de terra, dizendo-se roots. Enquanto isso, o poeta... ah, o poeta e seu bigode jogam pimenta no molho que iria esquentar depois que meu pau... ops! MEUPAL (Movimento Estudantil Unificado Pro-Álcool) aparecesse. De repente percebo que o nome dos jovens guerreiros é Fera, terceira pessoa depois de ninguém.

Observação:
Nós Feras temos que passar por vários testes.
O primeiro: o professor é aluno ou é professor?
Segundo: achar graça ou não dos rituais sagrados?
Terceiro: suportar as humilhações e explorações, que não são tão humilhantes e exploradoras assim.
Quarto: comprar e ler todas as apostilas em tempo hábil!
Quinto: participar de todas as palestras, que foram ótimas.
Sexto: se apresentar e dizer suas expectativas em relação ao curso durante toda a semana.
Sétimo, e talvez o último: ter cautela com a cachaça, eu quem o diga. Por falar nisso, alguém viu minha bolsa?

Por Uianatan Alecrim - FERA

2 comentários:

Anônimo disse...

Valeu mesmo Alecrim!
Valeu FERAS! A participação de vocês nas atividades da Semana de Integração foi massa, inclusive na C.Alourada. Acredito que vocês têm muito a contribuir com a construção de uma Universidade melhor. Então... simbora p/ luta!
"Um dos grandes deveres da Universidade é implantar suas práticas profissionais ao seio do povo." (Che Guevara)

Emerson Rocha disse...

Animal, muito bom o texto! Quem poderia imaginar que um bicho pudesse escrever tão bem?

Feras, espero que vocês aproveitem a universidade ao máximo e façam vale a pena a estadia de vcs.

Ah,os animais têm que manerar na cachaça mesmo rssrsrsr